quarta-feira, 28 de abril de 2010

Primavera Marcelista - Impacto da Guerra Colonial

A presença colonial em África deixa de ser afirmada como uma "missão histórica" ou questão de "independência nacional" para ser reconhecida por questões de defesa dos interesses das populações brancas aí residentes.
Durante a governação de Salazar, tinha sido promovida a emigração para as províncias para validar, de alguma forma, a tese do luso-tropicalismo. Logo, Marcello Caetano, para continuar a iludir a comunidadade internacional, afirma a importância de defender as populações portuguesas que tinham emigrado. Dado o novo carácter da colonização portuguesa, já se admite o princípio da autonomia progressiva. Concede-se o título honorífico de Estado a Angola e a Moçambique, que são dotadas de governos, assembleias e tribunais próprios, mesmo que dependentes de Portugal.
O principio da autonomia progressiva foi consagrado na Constituição, em 1971. Contudo, quase nada fora alterado para os movimentos independentistas e para a conjuntura internacional que lhes era favorável.
A guerra continuava, à medida que o isolamento internacional de Portugal se acentuava, que era confirmado pela recepção dos dirigentes dos movimentos de libertação pelo Papa Paulo VI. Traduzir-se-ia numa humilhação excepcional da administração colonial portuguesa. Para além disso, as manifestações de protesto que envolveram a visita de Marcello Caetano a Londres (1973), depois da comunidade internacional ter  tomado conhecimento dos massacres que o exército português cometera em Moçambique Por último, o isolamento confirma-se com a declaração unilateral da Guiné-Bissau, em 1973, e com o seu reconhecimento da ONU.
Internamente, a população portuguesa toma conhecimento das denúncias da injustiça da guerra e apela à resolução diplomática do conflito, mesmo com a actuação da censura. Os estudantes  formam  fortes movimentos de oposição à guerra e acentuam-se as fugas à incorporação militar. A Igreja Católica também esteve envolvida, pelo facto de grupos de católicos progressistas terem organizado manifestações públicas de condenação da guerra e de reconhecimento dos povos africanos à autodeterminação. A iniciativa mais marcante foi a vigília na capela do Rato, em 30 de Dezembro de 1972, os deputados da ala mais liberal da Assembleia Nacional protestam contra a guerra, abandonando o Parlamento.
No início de 1974, a alta hierarquia militar, perante a iminência da derrota portuguesa, concretamente o general Spínola denuncia a falência da solução militar, pela publicação do seu livro Portugal e o Futuro.
Constata-se que as manifestações contra o conflito nas províncias ultramarinas tiveram várias frentes. Não se restringiram exclusivamente ao povo, mas incluíram a Igreja Católica, que era um dos maiores alicerces da ditadura portuguesa, e os próprios militares, que, em África, tinham entrado em contacto com outras mentalidades.

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