domingo, 31 de janeiro de 2010

Frente Popular Francesa

Quer em França quer em Espanha, as dificuldades económicas sentidas, sobretudo no período relativo à Grande Depressão, e o avanço dos regimes totalitários por toda a Europa levaram os cidadãos a mobilizarem-se para a formação de alianças políticas, que se denominavam as Frentes Populares.
A Frente Popular francesa era formada por socialistas reformistas, por comunistas e por partidos radicais, tendo iniciado a campanha para as eleições legislativas com uma intensa denúncia das divisões da esquerda alemã, nas quais estava incluído o Partido Nacional-Socialista ou Nazi. No decorrer da campanha eleitoral, também propuseram o relançamento da economia nacional, pois como já tinha anteriormente mencionado estávamos no período da globalização do Crash de 29. Essa proposta tinha subjacente a melhoria das condições de vida do operariado e do campesinato francês.
A Frente Popular, com o lema "Pelo pão, pela paz, pela liberdade", ganhou as eleições, em 1936. Assim, constituiu-se como um governo de coligação democrática, que estava apoiado totalmente pelos comunistas - que nele não tiveram assento - e que foi presidido por Léon Blum.
No poder durante dois anos, estes governos desenvolveram uma política intervencionista, tal como fizera o New Deal e o Governo Nacional britânico. Na sua acção de tipo intervencionista desvalorizaram a moeda, nacionalizaram o Banco de França e alguns sectores fulcrais da economia francesa, tais como as indústrias bélicas e de caminhos-de-ferro.
Para além disso, foi também instituido o Wellfare State na França, dado o grande impulso na legislação social. Concedeu-se a liberdade sindical aos trabalhadores, não fosse a Frente Popular Francesa um governo dos trabalhadores e para os trabalhadores, aumentos salariais, redução do horário laboral, férias anuais pagas e outras remunerações sociais. Também se instituicionalizou o plano nacional de reformas.
Assim sendo, conclui-se que a classe operária estava dignificada, com a melhoria da sua qualidade de vida.

Fotografia de Léon Blum

Realizado por Joana Oliveira

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O intervencionismo do Estado

Previamente ao crash bolsista de 1929, vigorava a doutrina de Adam Smith - a do capitalismo liberal -, segundo a qual o mercado apenas deveria ser regido pela livre concorrência, baseada na lei da oferta e da procura. Como já estudámos, o capitalismo liberal florescia sob a forma de pequenas e numerosas empresas, que concorriam a uma fatia do mercado, com a ausência total do Estado (tinha um papel completamente passivo). Smith afirmava que o mercado era capaz, por si só, de atingir um equilíbrio natural e também que o progresso constante levaria a Humanidade à condição ideal, sem escassez e com um bem-estar na sua plenitude.
Ainda antes de 24 de Outubro de 1929 se interpretavam as crises cíclicas como reajustamentos naturais, que se resolveriam autonomamente. Daí a velha máxima liberal de que a regulamentação das actividades económicas por parte das entidades Estatais era completamente desnecessária.
Esta imagem resume na perfeição a perspectiva norte-americana acerca da economia, aquando da década de 1920.
Tal como fora referido na última entrada do blog, a Grande Depressão termina o capitalismo liberal. São os próprios teóricos do liberalismo a admitir um papel activo do Estado, perante as fragilidades visíveis da economia liberal, confirmadas com as frequentes crises (1920-21 e 1929-30). Logo, defendiam que o Estado deveria participar activamente na regulamentação das relações estabelecidas no mundo laboral. Também lhe caberia a criação de condições propícias ao desenvolvimento das economias nacionais.
Questionando a capacidade auto-reguladora do Estado, afirmada inicialmente por Smith, os liberais passaram a dizer que era a sua intervenção a forma mais eficaz e mais segura para que as desigualdades sociais e para evitar o agravamento das crises cíclicas.
Por conseguinte, deu-se a evolução de alguns economistas liberais para intervencionistas.
O mais acérrimo defensor deste intervencionismo foi John Keynes, o qual criticou as políticas deflacionistas. Por isso, defendeu a adopção de uma inflação controlada. A seu ver, era a única maneira para o relançamento dos lucros empresariais. Assim sendo, poder-se-ia converter o ciclo vicioso da crise no ciclo vicioso da prosperidade.
Logo, os primeiros lucros abririam as portas a novos empregados. Esses, agora com remunerações fiduciárias, teriam novamente poder de compra. Se se dá um aumento no poder de compra, haverá igualmente um incremento na procura.
Com um aumento na procura de bens, a produção sofrerá estímulos, afim de ser capaz de responder a tal procura. Para o conseguir, seriam necessários mais trabalhadores, pois a produção teria de ser aumentada. Este ciclo aqui descrito seria sucessivamente repetido.
Entra o Estado: teria de acompanhar o aumento no emprego, transformando-se num novo e importante patrão, com a adopção de medidas de combate ao entesouramento improdutivo, de investimento, de ajuda às emrpesas em dificuldade.
Claramente inspirado em Keynes, Roosevelt decide adoptar, desde 1933, um programa de reformas sociais e económicas. Era a altura do New Deal, que teve duas etapas: a superação dos efeitos da Grande Depressão e a instituição do Wellfare State,
Em primeiro lugar, Franklin Roosevelt adoptou rigorosas medidas financeiras. O Estado Norte-Americano interviu nas actividades bancárias, de modo a reorganizar as instituições, tendo igualmente encerrado as que não se mostravam viáveis. Participou no controlo austero das actividades especulativas (pois fora efectivamente a especulação a grande causadora da crise) e ainda desvalorizou o dólar, que tinha sido desvinculado do padrão-ouro, afim de diminui a dívida externa e para subir a inflação - constata-se, por conseguinte, a inspiração na proposta de John Keynes -, sempre de forma controlada.
Nesta conjectura de crise, foi visível uma política de grandes obras públicas. Facultou a redução da taxa de desemprego, em concorrência com a iniciativa privada na oferta de postos de trabalho e, simultaneamente, a promoção do desenvolvimento dos sectores estruturantes da economia.
De seguida: o rigoroso controlo da produção agrícola. O governo de Roosevelt ordenou a redução das áreas de cultivo, pois diminuir-se-ia a produção num espaço de tempo muito curto, podendo estabilizar os preços. Para o fazer, indemnizou os proprietários rurais. Posteriormente, eles ainda foram subsidiados para que criassem novos postos de trabalho e para que relançassem a actividade agrícola, agora em moldes mais modernos.
Terminou-se a primeira fase do New Deal com o controlo da produção industrial, pela regulamentação extremamente rigorosa  das quotas de produção, dos preços dos produtos, dos horários laborais, dos salários, da publicidade. Logo, evitou a concorrência desleal entre os produtores e garantiu a qualidade do trabalho do operariado.
A segunda etapa, a instituição do Estado de Providência, era completamente oposta a anteriores doutrinas liberais, que defendiam que o Estado não tinha de se preocupar com os direitos sociais do povo. Era a responsabilidade das pessoas de poupar para a doença, velhice, desemprego.
Ora, o New Deal ao incluir uma intensa publicação social originou uma nova concepção do Estado: era agora um Estado que tinha o dever de garantir a felicidade e o bem-estar aos cidadãos. Essa era a condição do desenvolvimento económico nacional.
Assim sendo, Roosevelt instituiu a reforma por invalidez e por velhice, criou o fundo público do desemprego e auxílio aos necessitados, instituiu o salário mínimo e definiu o horário semanal de trabalho.
A Inglaterra foi um dos países europeus onde a Grande Depressão mais se sentiu. Porém, o comunismo e o fascismo não tiveram grande aceitação entre a população inglesa, que estava muito ligada aos partidos tradicionais.
Surge como grande força política o Partido Trabalhista, inspirado no socialismo reformista. Congrega o apoio do operariado e da maioria dos sindicatos. Este partido aceita uma coligação num Governo Nacional, para intervir na resolução das dificuldades provocadas pela globalização da crise de 1929.
Obteve um sucesso relevante da intervenção do Governo Social: apoiaram empresas industriais e agrícolas; lançou-se uma política proteccionista. Esta política tinha como propósito o reforço das relações comerciais com os países da Commonwealth e a promoção dos produtos nacionais.
A nível social, instituiu-se o Estado de Providência, quando foi publicado um conjunto de medidas de protecção social: o lançamento de um programa de construção de habitações sociais para os operários; férias pagas e remunerações sociais - o subsídio de velhice, de viuvez, de orfandade e de desemprego.




Aqui um esquema bastante sucinto do New Deal.

Feito por Joana Oliveira

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Herbert Hoover

Herbert Hoover nasceu no ano de 1874, no Estado de Iowa, nos EUA. Era filho de um ferreiro, tendo sido criado no Estado de Oregon, na costa oeste.
Matriculou-se no ano de 1891 na Universidade de Stanford, o mesmo da instituição dessa faculdade. Formou-se como engenheiro de mineração.
Trabalhou na China, para uma corporação privada, na qualidade de principal enengenheiro do país.
Quando a Alemanha declarou guerra à França (início da 1ª Grande Guerra), o Consulado Geral norte-americano pediu o auxílio de Herbert Hoover para a aevacuação de turistas em dificuldades. Ajudou cento e vinte mil norte-americanos no regresso a casa.
Aquando da entrada norte-americana no conflito mundial, o Presidente Wilson decide nomeá-lo Chefe da Administração de Alimentos. Em 1921, ajudou a URSS atingida pela fome. Mesmo que tenha sido amplamente criticado por ajudar o bolchevismo, Hoover afirmava que vinte milhões estavam famintos e que precisavam de ser alimentados urgentemente, independentemente da sua ideologia política.
Após ter servido os Presidentes Harding e Coolidge enquanto Secretário do Comércio, tornou-se candidato presidencial da ala republicana, em 1928. A sua eleição aparentava ser a garantia da prosperidade. Todavia, um ano depois era a altura da Grande Depressão.
Mesmo com EUA na miséria, Hoover era crente da não-intervenção do Estado na economia. A população estava bastante desagradada com a política de crise. Acabaram por denominar os bairros de lata "Hoovervilles" ou "Cidades de Hoover" - na imagem podemos observar um trocadilho: "Hard times are still HOOVERing over us", querendo dizer que Hoover ainda estava no governo e que, resumidamente, era essa a causa da desgraça. Logo, (Hoover que em inglês quer dizer pairar) os maus tempos ainda pairavam sobre a população.
Começa a ser criticado brutalmente no Congresso e, nas presidenciais, o candidato Franklin Delano Roosevelt ganha, em 1932.
Continua a criticar a política intervencionista do Estado de Roosevelt - o New Deal.
Faleceu aos 90 anos.

















Feito por Joana Oliveira
Fonte:http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_496.html

domingo, 17 de janeiro de 2010

24 de Outubro de 1929: prenúncios e consequências

Pouco tempo depois de ter terminado a 1ª Guerra Mundial, em 1918, evidenciava-se uma extraordinária dependência relativamente aos EUA, da Europa arruinada económica, social e politicamente.
Os EUA elevam-se à categoria de primeira potência mundial, seguidos do Japão, ao ter em conta o triângulo financeiro do pós-guerra: os EUA enviavam capitais para o Reino Unido, para a França e para a Alemanha (era considerado o elo comum entre estes países). Por outro lado, a França e a Grã-Bretanha procuravam pagar tais empréstimos - os norte-americanos enviavam géneros, produtos industriais e dinheiro em bruto também, tendo em vista a reconstrução europeia - com o capital enviado pela Alemanha - recorde-se que, no Tratado de Versalhes, tinha ficado definido que a Alemanha, enquanto grande causadora do primeiro conflito à escala global, teria de efectuar o pagamento de avultadíssimas indemnizações, para que os outros países, os Aliados, pudessem mais facilmente reconstruir as suas sociedades. Nesta reconstrução, efectuada pelo triângulo financeiro, entram os EUA: enviam géneros alimentares, de modo a combater a fome, e produtos industriais, afim de reconstruir as infra-estrutuas bombardeadas.
De modo a pagar aos EUA o capital, ao qual se somavam os praticamente insuportáveis juros, a Europa começa a ser lentamente sugada economicamente. Simultaneamente, o continente norte-americano produzia freneticamente para o seu mercado externo - a Europa, totalmente arruinada, dado que tinha sido o palco principal da primeira guerra -, o qual era óptimo, pois o continente irradiava uma imagem de destruição massificada e precisava urgentemente de ser reconstruído.  No momento em que a Europa evidencia sinais de incapacidade de pagamento dos empréstimos e também na altura em que mostra ínfimos sinais de reconstrução, cessa a continuidade de tais empréstimos. Por conseguinte, se já não existe mercado externo e tendo em especial atenção que os EUA continuavam a produzir a um ritmo elevadíssimo - como mencionado anteriormente - deixa de existir escoamento de stocks, dentro dos principais secores económicos norte-americanos.
Deflagra a crise de 1920-21. a mentalidade dos EUA, dos grandes senhores da economia, começa a sofrer alterações. As empresas reduzem drasticamente os preços, afim de aumentar o escoamento de stocks. Exploram-se novas fontes energéticas, tais como o petróleo e a electricidade, e novos ramos industriais, nos quais sobressai efectivamente o sector automóvel. Nesta conjectura de crise, refere-se igualmente o relançamento da agricultura. Para além disso, as empresas dos sectores industriais adoptaram um novo método de racionalização do trabalho: o taylorismo, no qual cada operário realizava exlusivamente uma tarefa (observa-se na imagem ao lado o princípio fulcral deste método, o de cada operário realizar apenas uma tarefa, como já se referira anteriormente). Recorreu-se ainda, neste conjunto de medidas anti-crise, à concentração capitalista empresarial, com os objectivos de rentabilizar esforços e de relançar a economia nas sociedades industrializadas. Evidenciam-se algumas modificações na estrutura económica norte-americana, visto que os grandes se consciencializaram da necessidade de completa devoção ao mercado interno, tendo em conta que o externo já estava saturado. Assim, as empresas usam ineditamente a publicidade, para promover os seus produtos junto do povo-norte americano. Pela primeira vez na História, criou-se o pagamento a crédito, que se viria a mostrar, apenas alguns anos mais tarde, mais periogoso do que alguém alguma vez imaginara. Finalmente, as empresas constaram que, graças a esta crise de superprodução e com o aumento quase ininterrupto da taxa de desemprego (note-se que os operários que não tinham sido dispensados viam o seu salário encolhido) o poder de compra do povo norte-americano só não desaparecera graças a um quase-milagre. Ora, se não existe poder de compra, ou se ele está consideravelmente diminuído, mais produtos não sairão dos armazéns, mais terão de ser diminuídos os preços, menos lucro e rentabilidade haverá e mais desemprego em massa existirá. Por esta lógica, ficou definido que os salários sofreriam um aumento.
Este consumo massificado culminou na aparente prosperidade económica dos anos 20 e à mentalidade dos "loucos" ou "ruidosos anos" que vigorara nesta década. Não poderia ter sido mais enganadora (na imagem que o leitor pode observar ao lado, constata-se uma referência a uma das danças mais características dos loucos anos 20 - o foxtrot).
Mesmo antes do 24 de Outubro de 1929, existiam sectores considerados tradicionalmente fulcrais para a economia norte-amerciana, que demonstravam uma forte incapacidade de recuperação da última crise, ao evidenciarem grandes dificuldades em acompanhar a conjectura de crescimento económico, definida após a crise de 1920-1921. Note-se que existiam indústrias (extracção do carvão, da construção ferroviária, dos têxteis tradicionais e dos estaleiros navais) que não tinham sido capazes de recuperar os índices anteriores a 1920 - realça-se que os sectores automóvel e imobiliário já estavam em crise desde 1929 e 1926, respectivamente. Por outro lado, no espaço de oito anos, tinha-se verificado um desenvolvimento significativo da mecanização. Por conseguinte, se as máquinas resultavam em maior produtividade e se não reivindicavam o pagamento salarial por serem apenas máquinas, tal desenvolvimento da mecanização era a razão para a persistência do desemprego crónico. Já no sector agrícola, a agricultura evidenciava ser uma actividade pouco compensadora, ao atentar na incessante descida dos preços, enquanto tentativa de escoar os géneros alimentares. Visto que os preços estavam notoriamente baixos, registar-se-ia uma queda no lucro dos proprietários, a maioria endividada. O campesinato chegou mesmo a queimar as colheitas, afim de evitar a diminuição  no lucro (é possível que se faça uma comparação com o séc. XXI e com os finais do séc. XX - também se destruía o leite, sobretudo no continente europeu. Foi esta situação que levou a União Europeia a criar o sistema de quotas. ). Tal situação deflacionária, inevitável na agricultura dos EUA, era como uma doença infecciosa que se espalhava e trazia dificuldades no consumo sustentado dos produtos industriais. Dado que uma das medidas  da conjectura de crise de 1920-21 fora a criação do pagamento a prestações e a concessão de crédito (tinha como meta incrementar o consumo interno) era claro o forte endividamento da população norte-americana. Revelou ser o recurso mais fácil para manter os elevadíssimos índices de consumo. Assim, esta prática excessiva era igualmente produto da especulação bolsista, pois um número elevado de accionistas recorria ao crédito - daí que as acções compradas a crédito se denominassem "acções à margem" - para a aplicação de compra de acções. A grande maioria de acções de Wall Street eram fictícias.
Era a especulação financeira, na Bolsa de Wall Street, que prenunciava os piores tempos da economia dos EUA, simultaneamente que a Bolsa de Londres perdia o prestígio de ser o centro bolsista mundial, ganhando Wall Street esse título. Os aforradores (incvestidores) americanos preferiam não aplicar as suas poupanças no sector produtivo. Em vez disso, canalizavam-nas para negócios financeiros especulativos.
Era um hábito bastante prestigiado o jogo na bolsa, dado que resultava num lucro fácil e rápido.Todas as pessoas de todas as classes eram capazes de o fazer. As acções das empresas atraíam mais e mais investidores, num jogo financeiro. Por conseguinte, a grande maioria dos títulos atingia um valor perigosamente inflaccionado (definição de inflação:  subida geral dos preços, graças às distorções entre a procura e a oferta, ou seja, quando a procura é superior à oferta, e entre a quantidade de moeda que circula e a produção/circulação de riquezas), na ilusão de que os bancos estimulavam esta especulação bolsista (definição de especulação: operação comercial com lucros exagerados e pouco legítimos), pela concessão de empréstimos a entidades particulares e pelo investimento de uma percentagem elevada dos seus capitais nos mercados de valores mobiliários, isto é, na Bolsa.
Em meados de 1929, tanto a produção agrícola, como a produção industrial atingiam níveis demasiado elevados. Por outro lado, tal não era a especulação, os índices bolsistas atingiam constantes recordes.
Desta maneira, começaram a evidenciar-se indicadores que prenunciavam a crise. Denunciavam a acumulação de excedentes nos armazéns, em sectores da economia fulcrais (exemplo: o sector automóvel), constatando-se, consequentemente, a realidade da superprodução.
Nos mercados bolsistas, a grande maioria das acções tem ordem de venda. Perante a queda ininterrupta dos seus valores em 24 de Outubro, não havia compradores para a quantidade de títulos existentes no mercado. Esse dia ficaria conhecido como a "Black Thursday" ou "Quinta-feira negra".
Foi o crash de Wall Street (na imagem ao lado, observa-se a manchete do jornal inglês London Gerald, que coloca em destaque "Wall Street Crash" ou o crash de Wall Street).

Nos EUA, o crash mostrou-se logo caótico. Milhares de particulares, cuja grande percentagem estava endividada, ficaram arruinados. O poder de compra registou uma diminuição acentuada e, por isso, acentuaram-se os sinais de superprodução, visto que a o população se via quase sem poder de compra, não era capaz de comprar quer géneros alimentares, quer produtos industriais, constatando-se, por conseguinte, que os preços mesmo tendo chegado a valores incrivelmente baixos, não conseguiam compradores. Para além disso, dado que os particulares que deviam dinheiro à banca tinham ficado arruinados, não sendo capazes de pagar os seus empréstimos, e também pois os bancos tinham investido grande parte do capital em Wall Street, milhares de bancos foram à falência. Levaram consigo para o abismo da crise milhares de empresas, dependentes dos seus capitais - 10 000 bancos faliram entre 1929 e 1936, graças à paralisia da economia norte-americana, visto que cessou a grande base da prospteridade americana: o crédito. Não foram só os bancos entraram em falência, mas também as fábricas, pois os produtos, mesmo com um preço diminuto, não tinham compradores (abaixo, tem-se um gráfico que mostra o comportamento do índice Dow Jones em 1929, ano da quebra da Bolsa de Nova York. Este gráfico foi retirado do Wall Street Journal de 1º de janeiro de 1930).
Para além de consequências na economia, o dia de 24 de Outubro teve também repercusões no domínio social. Milhares na miséria, filas intermináveis para a sopa dos pobres, bairros de lata - esta era a imagem dos EUA logo após o crash. As pessoas vagueavam de terra em terra à procura de emprego, com um crescimento da taxa de desemprego a níveis galopantes. Com famílias inteiras na miséria, nas grandes cidades, observava-se o cenário constrangedor de filas gigantescas para uma sopa. Finalmente, refere-se que como famílias não tinham um único ente empregado e como na altura era bastante frequente arrendar uma casa em vez de a comprar, cresceran os bairros de latas nas zonas periféricas das mettrópoles, à medida que aumentavam os despejos por incumprimento no pagamento das rendas. Resumidamente, a crise de 29 originara 14 milhões de desempregados, a proletarização da sociedade, aumento da criminalidade, da mendicidade, dos suicídios e dos antagonismos sociais.
À medida que se aacentuavam os efeitos sociais da crise, agravavam-se os efeitos económicos. O crash do dia 24 fez com que se vivesse o círculo mais vicioso e mais grave da História - o leitor pode constatar pelo gráfico ao lado, que se refere ao crescimento do dólar, que esse esteve em constantes subidas e descidas. O próprio gráfico afirma que o mercado norte-americano não iria recuperar até à década de 50.
A crise económica nos EUA não iria ficar por aí: todo o mundo ficaria afectado. Seria a Grande Depressão dos anos 30.
O mundo inteiro, à excepção da U.R.S.S. (o sistema político diferenciava, pois na Rússia Soviética o sistema era o comunismo e no resto do mundo era o capitalismo liberal), dependia da prosperidade económica dos EUA. Por conseguinte, é fácil concluir que a falência da economia norte-americana arrastou inevitavelmente a falência da economia mundial. O processo de globalização iniciado por Portugal, aquando dos Descobrimentos, evidenciava agora a sua nefastidade. A crise que se estendera, numa primeira fase, exclusivamente aos EUA, era agora uma preocupação de quase todos os países. Era o período da depressão mundial.
No primeiro pós-guerra, os norte americanos tinham concedido uma enorme quantidade de capitais à Europa devastada, tendo-se estendido a prosperidade económica norte-americana ao resto do globo. Após o governo norte-americano se ter consciencializado da proporção que o acontecimento do 24 de Outubro estava a tomar a nível interno, tornou-se categórico que o capital emprestado às nações europeias fosse imediatamente recuperado, numa tentativa de melhorar a situação económica. Tal necessidade levou à descapatilização dos Bancos que, inevitavelmente, foram obrigados a declarar falência. Seguiram-se as empresas, dependentes dos seus financiamentos. A Europa, que momentos antes do deflagrar da crise, estava a mostrar sinais de recuperação, entrou num período de agravamento das suas dificuldades. A sua situação era pior do que período imediatamente após 1918: antes tinham um financiador, agora estavam sozinhas.
Para além da Europa, a crise estendeu-se a outros países, cujas economias estavam igualmente dependentes dos EUA - a Nova Zelândia, a Austrália, o México, o Brasil, a Índia, são alguns exemplos -, os países essencialmente fornecedorde matérias-primas. Não só deixaram de ter compradores nos EUA, como também na Europa. Por conseguinte - a maioria destes países estava em vias de desenvolvimento -, mediante as dificuldades dos países consumidores, os fornecedores ficaram sem mercado externo. Daí que tenham sido forçados a diminuir os respectivos níveis de produção. Se diminuíram esses níveis, não era necessario o mesmo número de empregados, que antes era preciso para obter uma maior produtividade). Consequentemente, as entidades produtoras despedem uma parte significva dos trabalhadores, que eram desnecessários à conjectura de crise.
Se se registou um aumento na taxa de desemprego, inicia-se o mesmo círculo vicioso anteriormente observado com os EUA. Genericamente: se não há emprego, não há salário, extingue-se o poder de compra, aumenta a fome.
Era um período de forte deflação (definição de deflação: situação económica geralmente de crise, caracterizada por uma diminuição nos preços , no investimento e na procura).
As autoridades políticas, particularmente o executivo americano, liderado por Hoover, não compreenderam a real dimensão da crise. Acabaram mesmo por piorar a situação de deflação com desastrosas medidas. Em 1930, os EUA, afim de protegerem a economia nacional, aumentaram para o dobro as taxas incidentes nas importações. Esta medida provocou dificuldades acrescidas aos países, que se viram sem quaisquer condições para adquirir a produção americana. Este ainda relacionada com o declínio do comércio internacional. Hoover decidiu ainda aumentar os impostos, na procura de mais receitas para os cofres do Estado e para aumentar o crédito, cuja concessão agora era muito mais restritiva, de modo a eliminar as empresas consideradas não viáveis.
No continente Europeu, mais propriamente na Alemanha, os funcionários públicos sofreram significativos cortes salariais. Assim sendo, o seu poder de compra foi substancialmente diminuído.
Visto que se pretendia o saneamento financeiro, evitando despesas e aumentando receitas, existiam consideráveis entraves ao investimento e ao aumento do poder de compra da população. Esta medida piorou a situação, na medida em que sem procura era impossível o relançamento da economia.


Vejam o seguinte vídeo, que é bastante ilutrativo da situação aqui descrita:


Mesmo assim, não fomos capazes de aprender com os nossos erros...



Realizado por Joana Oliveira