Pouco tempo depois de ter terminado a 1ª Guerra Mundial, em 1918, evidenciava-se uma extraordinária dependência relativamente aos EUA, da Europa arruinada económica, social e politicamente.
Os EUA elevam-se à categoria de primeira potência mundial, seguidos do Japão, ao ter em conta o triângulo financeiro do pós-guerra: os EUA enviavam capitais para o Reino Unido, para a França e para a Alemanha (era considerado o elo comum entre estes países). Por outro lado, a França e a Grã-Bretanha procuravam pagar tais empréstimos - os norte-americanos enviavam géneros, produtos industriais e dinheiro em bruto também, tendo em vista a reconstrução europeia - com o capital enviado pela Alemanha - recorde-se que, no Tratado de Versalhes, tinha ficado definido que a Alemanha, enquanto grande causadora do primeiro conflito à escala global, teria de efectuar o pagamento de avultadíssimas indemnizações, para que os outros países, os Aliados, pudessem mais facilmente reconstruir as suas sociedades. Nesta reconstrução, efectuada pelo triângulo financeiro, entram os EUA: enviam géneros alimentares, de modo a combater a fome, e produtos industriais, afim de reconstruir as infra-estrutuas bombardeadas.
De modo a pagar aos EUA o capital, ao qual se somavam os praticamente insuportáveis juros, a Europa começa a ser lentamente sugada economicamente. Simultaneamente, o continente norte-americano produzia freneticamente para o seu mercado externo - a Europa, totalmente arruinada, dado que tinha sido o palco principal da primeira guerra -, o qual era óptimo, pois o continente irradiava uma imagem de destruição massificada e precisava urgentemente de ser reconstruído. No momento em que a Europa evidencia sinais de incapacidade de pagamento dos empréstimos e também na altura em que mostra ínfimos sinais de reconstrução, cessa a continuidade de tais empréstimos. Por conseguinte, se já não existe mercado externo e tendo em especial atenção que os EUA continuavam a produzir a um ritmo elevadíssimo - como mencionado anteriormente - deixa de existir escoamento de stocks, dentro dos principais secores económicos norte-americanos.


Mesmo antes do 24 de Outubro de 1929, existiam sectores considerados tradicionalmente fulcrais para a economia norte-amerciana, que demonstravam uma forte incapacidade de recuperação da última crise, ao evidenciarem grandes dificuldades em acompanhar a conjectura de crescimento económico, definida após a crise de 1920-1921. Note-se que existiam indústrias (extracção do carvão, da construção ferroviária, dos têxteis tradicionais e dos estaleiros navais) que não tinham sido capazes de recuperar os índices anteriores a 1920 - realça-se que os sectores automóvel e imobiliário já estavam em crise desde 1929 e 1926, respectivamente. Por outro lado, no espaço de oito anos, tinha-se verificado um desenvolvimento significativo da mecanização. Por conseguinte, se as máquinas resultavam em maior produtividade e se não reivindicavam o pagamento salarial por serem apenas máquinas, tal desenvolvimento da mecanização era a razão para a persistência do desemprego crónico. Já no sector agrícola, a agricultura evidenciava ser uma actividade pouco compensadora, ao atentar na incessante descida dos preços, enquanto tentativa de escoar os géneros alimentares. Visto que os preços estavam notoriamente baixos, registar-se-ia uma queda no lucro dos proprietários, a maioria endividada. O campesinato chegou mesmo a queimar as colheitas, afim de evitar a diminuição no lucro (é possível que se faça uma comparação com o séc. XXI e com os finais do séc. XX - também se destruía o leite, sobretudo no continente europeu. Foi esta situação que levou a União Europeia a criar o sistema de quotas. ). Tal situação deflacionária, inevitável na agricultura dos EUA, era como uma doença infecciosa que se espalhava e trazia dificuldades no consumo sustentado dos produtos industriais. Dado que uma das medidas da conjectura de crise de 1920-21 fora a criação do pagamento a prestações e a concessão de crédito (tinha como meta incrementar o consumo interno) era claro o forte endividamento da população norte-americana. Revelou ser o recurso mais fácil para manter os elevadíssimos índices de consumo. Assim, esta prática excessiva era igualmente produto da especulação bolsista, pois um número elevado de accionistas recorria ao crédito - daí que as acções compradas a crédito se denominassem "acções à margem" - para a aplicação de compra de acções. A grande maioria de acções de Wall Street eram fictícias.
Era a especulação financeira, na Bolsa de Wall Street, que prenunciava os piores tempos da economia dos EUA, simultaneamente que a Bolsa de Londres perdia o prestígio de ser o centro bolsista mundial, ganhando Wall Street esse título. Os aforradores (incvestidores) americanos preferiam não aplicar as suas poupanças no sector produtivo. Em vez disso, canalizavam-nas para negócios financeiros especulativos.
Era um hábito bastante prestigiado o jogo na bolsa, dado que resultava num lucro fácil e rápido.Todas as pessoas de todas as classes eram capazes de o fazer. As acções das empresas atraíam mais e mais investidores, num jogo financeiro. Por conseguinte, a grande maioria dos títulos atingia um valor perigosamente inflaccionado (definição de inflação: subida geral dos preços, graças às distorções entre a procura e a oferta, ou seja, quando a procura é superior à oferta, e entre a quantidade de moeda que circula e a produção/circulação de riquezas), na ilusão de que os bancos estimulavam esta especulação bolsista (definição de especulação: operação comercial com lucros exagerados e pouco legítimos), pela concessão de empréstimos a entidades particulares e pelo investimento de uma percentagem elevada dos seus capitais nos mercados de valores mobiliários, isto é, na Bolsa.
Em meados de 1929, tanto a produção agrícola, como a produção industrial atingiam níveis demasiado elevados. Por outro lado, tal não era a especulação, os índices bolsistas atingiam constantes recordes.

Nos mercados bolsistas, a grande maioria das acções tem ordem de venda. Perante a queda ininterrupta dos seus valores em 24 de Outubro, não havia compradores para a quantidade de títulos existentes no mercado. Esse dia ficaria conhecido como a "Black Thursday" ou "Quinta-feira negra".
Foi o crash de Wall Street (na imagem ao lado, observa-se a manchete do jornal inglês London Gerald, que coloca em destaque "Wall Street Crash" ou o crash de Wall Street).
Nos EUA, o crash mostrou-se logo caótico. Milhares de particulares, cuja grande percentagem estava endividada, ficaram arruinados. O poder de compra registou uma diminuição acentuada e, por isso, acentuaram-se os sinais de superprodução, visto que a o população se via quase sem poder de compra, não era capaz de comprar quer géneros alimentares, quer produtos industriais, constatando-se, por conseguinte, que os preços mesmo tendo chegado a valores incrivelmente baixos, não conseguiam compradores. Para além disso, dado que os particulares que deviam dinheiro à banca tinham ficado arruinados, não sendo capazes de pagar os seus empréstimos, e também pois os bancos tinham investido grande parte do capital em Wall Street, milhares de bancos foram à falência. Levaram consigo para o abismo da crise milhares de empresas, dependentes dos seus capitais - 10 000 bancos faliram entre 1929 e 1936, graças à paralisia da economia norte-americana, visto que cessou a grande base da prospteridade americana: o crédito. Não foram só os bancos entraram em falência, mas também as fábricas, pois os produtos, mesmo com um preço diminuto, não tinham compradores (abaixo, tem-se um gráfico que mostra o comportamento do índice Dow Jones em 1929, ano da quebra da Bolsa de Nova York. Este gráfico foi retirado do Wall Street Journal de 1º de janeiro de 1930).


O mundo inteiro, à excepção da U.R.S.S. (o sistema político diferenciava, pois na Rússia Soviética o sistema era o comunismo e no resto do mundo era o capitalismo liberal), dependia da prosperidade económica dos EUA. Por conseguinte, é fácil concluir que a falência da economia norte-americana arrastou inevitavelmente a falência da economia mundial. O processo de globalização iniciado por Portugal, aquando dos Descobrimentos, evidenciava agora a sua nefastidade. A crise que se estendera, numa primeira fase, exclusivamente aos EUA, era agora uma preocupação de quase todos os países. Era o período da depressão mundial.
No primeiro pós-guerra, os norte americanos tinham concedido uma enorme quantidade de capitais à Europa devastada, tendo-se estendido a prosperidade económica norte-americana ao resto do globo. Após o governo norte-americano se ter consciencializado da proporção que o acontecimento do 24 de Outubro estava a tomar a nível interno, tornou-se categórico que o capital emprestado às nações europeias fosse imediatamente recuperado, numa tentativa de melhorar a situação económica. Tal necessidade levou à descapatilização dos Bancos que, inevitavelmente, foram obrigados a declarar falência. Seguiram-se as empresas, dependentes dos seus financiamentos. A Europa, que momentos antes do deflagrar da crise, estava a mostrar sinais de recuperação, entrou num período de agravamento das suas dificuldades. A sua situação era pior do que período imediatamente após 1918: antes tinham um financiador, agora estavam sozinhas.
Para além da Europa, a crise estendeu-se a outros países, cujas economias estavam igualmente dependentes dos EUA - a Nova Zelândia, a Austrália, o México, o Brasil, a Índia, são alguns exemplos -, os países essencialmente fornecedorde matérias-primas. Não só deixaram de ter compradores nos EUA, como também na Europa. Por conseguinte - a maioria destes países estava em vias de desenvolvimento -, mediante as dificuldades dos países consumidores, os fornecedores ficaram sem mercado externo. Daí que tenham sido forçados a diminuir os respectivos níveis de produção. Se diminuíram esses níveis, não era necessario o mesmo número de empregados, que antes era preciso para obter uma maior produtividade). Consequentemente, as entidades produtoras despedem uma parte significva dos trabalhadores, que eram desnecessários à conjectura de crise.
Se se registou um aumento na taxa de desemprego, inicia-se o mesmo círculo vicioso anteriormente observado com os EUA. Genericamente: se não há emprego, não há salário, extingue-se o poder de compra, aumenta a fome.
Era um período de forte deflação (definição de deflação: situação económica geralmente de crise, caracterizada por uma diminuição nos preços , no investimento e na procura).
As autoridades políticas, particularmente o executivo americano, liderado por Hoover, não compreenderam a real dimensão da crise. Acabaram mesmo por piorar a situação de deflação com desastrosas medidas. Em 1930, os EUA, afim de protegerem a economia nacional, aumentaram para o dobro as taxas incidentes nas importações. Esta medida provocou dificuldades acrescidas aos países, que se viram sem quaisquer condições para adquirir a produção americana. Este ainda relacionada com o declínio do comércio internacional. Hoover decidiu ainda aumentar os impostos, na procura de mais receitas para os cofres do Estado e para aumentar o crédito, cuja concessão agora era muito mais restritiva, de modo a eliminar as empresas consideradas não viáveis.
No continente Europeu, mais propriamente na Alemanha, os funcionários públicos sofreram significativos cortes salariais. Assim sendo, o seu poder de compra foi substancialmente diminuído.
Visto que se pretendia o saneamento financeiro, evitando despesas e aumentando receitas, existiam consideráveis entraves ao investimento e ao aumento do poder de compra da população. Esta medida piorou a situação, na medida em que sem procura era impossível o relançamento da economia.
Vejam o seguinte vídeo, que é bastante ilutrativo da situação aqui descrita:
Mesmo assim, não fomos capazes de aprender com os nossos erros...
Realizado por Joana Oliveira
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