A regressão do demoliberalismo deveu-se a alguns factores: ao Komintern (vemos ao lado uma imagem publicitária da III Internacional Comunista) e o impacto do socialismo revolucionário e, por outro lado, à emergência dos autoritarismos.
Em primeiro lugar, o Komintern (ou Internacional Comunista) tinha como propósito a difusão dos ideais comunistas pelo mundo, coordenado, por conseguinte, a luta dos partidos operários mundiais, a fim de fazer com que o marxismo-leninismo triunfasse em todas as nações. Observa-se que o III Komintern originou uma grande vaga de greves e outros movimentos revolucionários por toda a Europa: o proletariado sonhava com o “paraíso” na terra, isto é, um mundo que os defendesse, tal como a URSS. Assim sendo, o proletariado europeu via no marxismo-leninismo a redenção e na URSS a luz que guiava a Revolução.
Contudo, Lenine e Trotsky defendiam vários critérios para que tal pudesse acontece – para que se desse a difusão ideológica comunista, essa difusão deveria ser dirigida somente por partidos comunistas, criados a partir do modelo russo, e fiéis ao marxismo-leninismo. Era preciso igualmente que de modo a que os partidos sociais-democratas e socialistas se pudessem tornar em partidos comunistas, teriam de se libertar das tendências reformistas-revisionistas, anarquistas e pequeno-burguesas. Teriam de defender a Rússia Bolchevista e o centralismo democrático.
Realça-se que no pós-Primeira Guerra, havia perturbações em todos os estratos sociais. Por um lado, a burguesia industrial e financeira, mesmo possuindo capacidades para melhor resistir às condições adversas, assistiu à desvalorização do seu património – alguns sectores não foram capazes de evitar a falência. As classes médias urbanas, que eram dependentes de salários ou de outro tipo de rendimento fixo, mostraram grandes dificuldades, já que inúmeros assalariados, que não conseguiram resistir à sua pauperização, acabaram por cair na proletarização que tanto desdenhavam. Por outro lado, centenas de milhar de agricultores, independentemente de serem titulares de capitais próprios ou dependentes do sector financeiro, acabaram por cair na ruína; e, finalmente, o operariado urbano e rural caiu na miséria, resultante da taxa de desemprego em constante e exponencial crescimento.
Fundaram-se, desta maneira, partidos comunistas (entre 1918 e 1923). Na Alemanha, em 1918, organizam-se conselhos de operários, soldados e marinheiros e a facção mais à esquerda do partido social-democrata reúne armas contra a República Parlamentar de Weimar. Os revolucionários, que pertenceram ao Partido Comunista Alemão, auto-apelidavam-se de espartaquistas e proclamavam na capital alemã uma “república socialista”. Todavia, este partido comunista acabou por ser dominado pelas tropas fiéis ao Governo, aquando da execução dos líderes comunistas (observa-se na figura, ao lado, a imagem imortalizada numa escultura de Rosa Luxemburg, uma das líderes do Partido Comunista Alemão).
Já na Hungria, a Comuna ou a República dos Conselhos implanta-se em Budapeste, mas as pressões internas e externas dificultaram a governação, fazendo com que o dirigente do movimento se retirasse em Agosto de 1921.
Finalmente, na Itália, em 1919, os camponeses ocupam terras incultas. No entanto, o movimento comunista é derrotado, ao considerar o facto da greve dos operários metalúrgicos ter originado a ocupação de fábricas, mas que foram impedidos pela ausência de créditos bancários, tal como pelo acordo entre o Governo, o Partido Socialista e a Confederação Social de Trabalho.
É nesta altura que surgem os autoritarismos. O surto de movimentos revolucionários, baseados na ideologia comunista russa incute medo na grande burguesia, proprietária e financeira, nas classes médias de funcionários e pequeno-burgueses – eram patriotas, amantes da ordem e cornservadores).
Por conseguinte, estes sectores conservadores organizaram-se em movimentos de reacção ao avanço do comunismo, tendo lançado campanhas anticomunistas, de carácter violento e agressivo. Apelaram também ao orgulho passado, ou seja, à grandeza do passado, à ordem, tal como à estabilidade que tinham culminado na grandeza das nações, contrastando com as doutrinas socialistas que, com o seu internacionalismo, questionavam a coesão nacional. As classes, já referidas, denunciavam a incapacidade dos governos democráticos de resolverem a crise económica e a instabilidade social, assim como as fragilidades do parlamentarismo, que tinham sido geradas nas permanentes lutas partidárias, consideradas inviabilizadoras da acção governativa. Organizavam, armam e financiam milícias populares, com a finalidade de espalhar o terror entre as organizações socialistas. Finalmente, procuravam o apoio das altas patentes militares, preparando-se para a luta política.
Como efeito, começam a surgir soluções autoritárias de direita – conservadoras e nacionalistas - , sobretudo nos países onde a democracia liberal não dispunha de raízes sólidas e/ou nos lugares onde a Primeira Grande Guerra provocara gravíssimos problemas económicos, humilhações e insatisfações.
Começam a surgir regimes autoritários (de extrema direita): em primeiro, na Itália, onde Mussolini com a Marcha sobre Roma obriga o Rei Vítor Manuel II a nomeá-lo chefe do executivo (como se pode observar na figura ao lado - Mussolini a apelar aos seus militantes) Assim sendo, o fascismo fica implantado neste país desde 1926, servindo de modelo e de inspiração ao resto da Europa por mais de vinte anos.
Na Espanha, entre 1923 e 1930, vive-se a ditadura militar de Manuel Rivera, tendo contado com o apoio do Rei Afonso XII. Afim de acabar com a instabilidade sociopolítica, Rivera suspende a Constituição, dissolve as Cortes e suprime os Partidos Políticos. Por último, na Alemanha Hitler e o seu putsh, em 1923, dirigido contra a República Parlamentar de Weimar.
Conclui-se que a emergência dos autoritarismos confirma a regressão do demoliberalismo (abaixo, vêmos uma imagem que caracteriza o "putsch" de Adolf Hitler).
Esta síntese foi feita pela Joana Oliveira.